data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Renan Mattos (Diário)
Há 20 dias, o Pronto-Socorro (PS) do Hospital Universitário de Santa Maria (Husm) não está mais recebendo pacientes nas especialidades de ortopedia e traumatologia. Um ofício expedido pela direção técnica no início deste mês expôs as dificuldades enfrentadas pelo setor do hospital, que enfrenta frequentemente situações de superlotação.
A decisão foi tomada no dia 2 de outubro e foi reavaliada na última quinta-feira. Ainda segundo o ofício, nas últimas semanas a emergência do Husm chegou a ter entre 40 e 60 pacientes internados necessitando de cirurgia traumatológica. Conforme a assessoria de comunicação do hospital, 63 pacientes estavam internados no momento em que a instituição decidiu pela restrição de atendimentos. Desse total, 23 estavam no PS e, os demais internados, aguardando por cirurgia (sendo 16 deles idosos com fratura no fêmur).
- Mesmo com a restrição, mesmo só recebendo fraturas expostas e politraumatizados, já tivemos mais 32 pacientes que deram entrada nesse intervalo, cerca de dois pacientes e meio por dia. O que acontece é que o Husm é um hospital isolado e aí é humanamente e estruturalmente impossível receber as demandas da região - explica Humberto Palma, chefe da Divisão Médica do Husm, que também atua como ortopedista e traumatologista no hospital.
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Atualmente, cerca de 30 pacientes com fraturas estão internados no hospital aguardando ou algum procedimento, ou em recuperação. Em função da restrição nos atendimentos do PS, a direção tem enviado de volta às cidades de origem os pacientes que precisam de uma cirurgia.
- O hospital não está mais suportando, essa é a verdade. Eu tenho um paciente jovem que está aguardando cirurgia há 50 dias. Os familiares querem nos trucidar. A pressão em cima da equipe médica é impressionante. As pessoas não têm ideia de como é chegar para a pessoa e falar pela terceira, quarta, quinta vez que temos que cancelar a cirurgia - diz Palma.
Segundo o chefe da Divisão Médica, três pacientes idosos aguardam por cirurgia há 20 dias, embora o correto seria operar em até 72 horas. O médico informa que a restrição nos atendimentos será mantida e reavaliada semanalmente:
- Nossa ideia é reabrir o PS para ortopedia e traumatologia não mais plenamente. Vamos manter a restrição até resolvermos os casos que já temos. Estamos terminando um estudo e, provavelmente, vamos ter que definir um teto de pacientes, para que possamos ter condições operacionais para um atendimento humano. Não conseguimos fazer isso com 60 pacientes.
ALTERNATIVAS
Na semana passada, o Husm e a 4ª Coordenadoria Regional de Saúde (4ª CRS) estiveram reunidas em duas oportunidades para tratar do assunto e tentar traçar estratégias para uma resolução definitiva. Além do Husm, a Casa de Saúde, em Santa Maria, o Hospital de Caridade São Roque, de Faxinal do Soturno, e o Hospital de Caridade de Santiago possuem contrato para atender pacientes nas especialidades de orto e trauma na Região Central.
- O papel da coordenadoria, neste momento, é tentar dar encaminhamentos para atender essa demanda. Temos esses três prestadores, mas existem alguns procedimentos que dependem do perfil das instituições. Estamos fazendo um levantamento de dados para melhorar o fluxo e otimizar a nossa rede - afirma a coordenadora da Rede de Urgência e Emergência da 4ª CRS, Eliara Machado.
De acordo com a delegada da 4ª CRS, Marilisa Vilagrand, a ideia é se reunir, posteriormente, com os gestores desses hospitais para apresentar uma proposta a ser estruturada em conjunto. Na próxima semana, ela deve ir até Porto Alegre buscar alternativas para a situação.
Só em Santa Maria, cerca de 4 mil pacientes aguardam na fila da traumatologia
style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Renan Mattos (Diário)
Para o secretário municipal de Saúde, Francisco Harrisson, que também é traumatologista, apesar de ter um limite financeiro, é preciso um direcionamento das chefias para que o Husm não seja a única referência da região. Segundo ele, só em Santa Maria, cerca de 4 mil pessoas aguardam consulta ou cirurgia na fila de espera em traumatologia.
- Hoje, ter um paciente há 50 dias esperando por uma cirurgia é realmente inviável e desumano. É inadmissível. Falta conversa entre os entes para resolver o problema que não é só do Husm, é de todos nós. Temos que rever os contratos e as necessidades da nossa região, para ter apoio tanto na emergência, quanto para as cirurgias eletivas, que se acumulam - disse.
Fraturas de tornozelo, fraturas de fêmur em jovens ou isoladas e fraturas de quadril em pacientes sadios, por exemplo, não precisariam ser direcionadas ao Husm, como hoje acontece, e passariam a ser distribuídas a esses outros municípios.
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JUSTIÇA
Segundo Harrisson, desde que a restrição dos atendimentos foi instituída no PS do Husm, dois pacientes que deram entrada na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) 24 horas e um via Pronto-Atendimento (PA) do Patronato precisaram de ordens judiciais para que fossem operados na rede privada. Após a judicialização dos casos, eles foram operados no Hospital de Caridade Dr. Astrogildo de Azevedo.
- Se não for politrauma, não tem que ser mandado para o Husm. A minha briga, junto com a AMCentro, é para que a traumatologia seja a primeira especialidade de alta complexidade a ser aberta no Hospital Regional, pelo tamanho das nossas demandas. Os equipamentos nessa especialidade não são os mais caros e é o que precisamos mais. Se tem uma vítima de politrauma no Husm, pode estabilizar e mandar para o Regional, que vai ter uma estrutura de CTI. Desafoga o Husm e consegue-se dar andamento nas eletivas - aponta Harrisson.